Mais uma noite chacoalhando na poltrona do trem que, desta vez, não tinha camas disponíveis. Mas a noite mal dormida ocorreu em função da minha preocupação com o desembarque. O trem que eu estava iria até Viena (na Áustria) e, por algum descuido ou um simples cochilo na hora errada, eu corria o risco de passar direto por Budapeste.
Felizmente eu estava de olhos bem abertos quando cheguei à capital da Hungria. Desci do trem em Peste (para que você entenda, Buda e Peste eram cidades distintas, separadas pelo rio Danúbio) e, seguindo o mapa que havia no guia O Viajante, caminhei até o albergue Marco Polo. Eram umas 6h da manhã e obviamente não pude fazer o check-in que começava somente às 14h.
Como a cidade ainda estava dormindo, sentei-me na recepção e comecei a ler o guia e a entender o mapa da cidade, como sempre fazia, para otimizar a minha visita. Enquanto isso, apareceu uma canadense ansiosa para ir à Romênia e preocupada com o resto do seu grupo que já estava atrasado. Conversamos sobre a cidade e ela me deu uma dica sobre a fonte musical que comentarei a seguir. Depois, surgiu um casal de irmãos alemães. Eles eram de Berlim e chegaram à procura de um apartamento para o menino que iria estudar por lá.
Enquanto eu lia o guia e conhecia pessoas, o tempo passou e já eram quase 8h. Decidi sair. Parei numa ATM e saquei 10.000 forints – na época, equivalentes a €40. Atravessei a Erzsébet Híd (Ponte Elisabeth, que é toda branca) sobre o rio Danúbio e, em Buda, tentei visitar algumas igrejas. Só uma estava aberta. Caminhei pela margem do Danúbio contemplando as belas paisagens compostas pelas pontes e belas construções, entre as quais a maior e mais bonita é o majestoso Parlamento que, construído entre 1884 e 1902, tornou-se símbolo da cidade – e do país.
Atravessando a Margit Híd (Ponte Margaret) cheguei até a Margitsziget (Ilha Margaret), uma ilha no meio do Danúbio, com parques arborizados e amplos gramados. É o local ideal para descansar ou fazer um piquenique na capital húngara. A fonte musical que a canadense indicou também fica nessa ilha e vale ficar ali sentado por alguns minutos curtindo o vai e vem das pessoas e das águas. Mais recentemente a fonte ganhou um upgrade que lhe rendeu uma nova cara e incluiu luzes noturnas, o que garante um espetáculo ainda mais bonito.
Descansado, atravessei o restante da ponte até Peste. Foi uma longa e bela caminhada que incluiu o Parlamento (desta vez, da margem onde ele fica), a Széchenyi Lánchíd (a Ponte das Correntes com seus leões guardiões, um dos símbolos da cidade) e pelos calçadões repletos de lojas e cafés. Essa andança foi suficiente para me cansar novamente – e também me deixou com fome.
Depois de pesquisar bastante (e não aguentar mais caminhar), encontrei o restaurante Repetasarok, uma opção interessante, de esquina, e com boa aparência. Sentei-me a uma das mesas na calçada e após analisar o cardápio, pedi uma sugestão ao garçom que me indicou o Magyaros sertésszűz – filé mignon ao estilo húngaro com páprica doce e batatas – acompanhado por uma cerveja Borostván, também húngara. Simplesmente uma delícia!
Satisfeito e com as energias renovadas, atravessei mais uma vez a Ponte Elisabeth mas, dessa vez, virei à esquerda para conhecer o famoso banho termal Gellért Gyógyfürdö. Ocupando uma estilosa construção em art nouveau, funciona desde 1918 e é o banho termal mais conhecido de Budapeste. Entrei, pedi informações e, quando estava prestes a entrar, eis que aparecem duas brasileiras, as irmãs paulistanas Ana e Tatiana. Conversamos um pouco e descobrimos que estávamos no mesmo albergue. Elas também disseram que valia muito a pena subir ao Castelo de Buda. Depois do bate-papo rápido, nos despedimos, elas partiram e eu, finalmente, entrei no banho termal. Troquei de roupa e fui direto para a belíssima piscina coberta que sempre via nas fotos, cercada por grossas colunas e protegida por uma cobertura de vidro. A surpresa, porém, não foi agradável: justamente a água daquela piscina era gelada. Nadei um pouquinho e saí correndo para outra piscina, menor e com água quente. Enquanto relaxava fui abordado por um brasileiro que havia me visto conversando na recepção com as meninas. Sim, há brasileiros por todos os cantos do mundo. Depois segui para a área externa onde aproveitei para me secar ao sol antes de partir.
Seguindo a indicação das meninas, fui até o funicular (sikló) que sobe o Morro do Castelo. Sem dúvidas, é de lá que se tem as melhores vistas da cidade, além de um aprazível passeio pelos jardins do castelo – que fica melhor ainda degustando um Kürtőskalács, pão doce em formato cilíndrico, chamado de chimney cake, em inglês. Passei pela igreja Mátyás-Templon (que estava fechada para restauração) e pelo Halászbástya (Bastião dos Pescadores), construído no local que já foi um mercado de peixes.
O dia havia rendido bastante e o fim da tarde se aproximava. Cruzei novamente o Danúbio, desta vez pela Ponte das Correntes, para retornar ao albergue. Mais tarde, reencontrei as meninas de São Paulo e saímos pra jantar. Encontramos um restaurante bacana no centro, onde elas pediram o tradicional goulash e eu optei por um pimentão recheado. Me dei mal. Quando o meu prato chegou, a porção era tão pequena que virou a grande piada da noite.
No dia seguinte acordei cedo, peguei o metrô até a estação de trem e embarquei para Viena, capital da Áustria.
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Este é o 42º post da série Mochilão na Europa I (28 países)
Leia o post anterior: A verdadeira história do Conde Drácula (Bran, Romênia)
Leia o post seguinte: Um dia em Viena (Áustria)
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