Laguna 69: desafiando a Cordilheira Branca (Huaraz, Peru)

Fala, viajante!! No último post escrevi como foi ter “Um dia de peruano no Callao”, participando de um evento beneficente e, de quebra, falei “Um pouquinho de Miraflores”, onde saímos para comer e curtir a noite de Lima. Clique aqui para ler o post. O post de hoje relata nossa saída de Lima com destino a Huaraz, onde encaramos a subida da Cordilheira Branca até a Laguna 69 com apenas algumas horas de aclimatação à altitude. Que saber o que aconteceu? Confere aí!!


Laguna 69: desafiando a Cordilheira Branca (Huaraz, Peru)

Era um manhã de domingo, 17 de abril de 2016. O despertador tocou, levantei-me enquanto todos os outros ainda dormiam. Lá fora, o dia amanhecia em Lima carregado por uma névoa branca e densa que mal me deixava enxergar pela janela. Aos poucos, todos iam despertando e arrumando a bagagem para nosso primeiro deslocamento no Peru.

Nosso anfitrião, Israel, muito gentilmente nos levou até o terminal da empresa de ônibus Moviltours – importante destacar que por lá cada empresa tem seu próprio terminal, não existindo um terminal rodoviário único que atenda a várias empresas, como estamos acostumados aqui no Brasil.

Quando chegamos ao terminal, fomos retirar os bilhetes que havíamos comprado pela internet por S/. 40,00 cada um – o procedimento levou bastante tempo devido a algum problema no sistema, por isso foi importante chegarmos cedo. Com os bilhetes em mãos, fomos à uma outra sala para despachar as bagagens, mais ou menos como funciona no embarque aéreo.

Em seguida, fomos tomar café da manhã em uma barraquinha de rua que fica na esquina do terminal. Dentre as opções, escolhi um sanduíche: pão com ovo e presunto. Para tomar, experimentei a Avena: leite com aveia e canela – uma delícia!

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Agradecemos e nos despedimos de Israel e voltamos ao saguão do terminal onde assistimos às notícias sobre as consequências terríveis do terremoto que, na noite anterior, havia destruído a cidade de Pedernales, no Equador. Como iríamos para lá em alguns dias, ficamos bastante atentos e comovidos com a situação do país.

Não demorou muito para que nosso embarque fosse anunciado. Eram 9h da manhã quando deixamos a capital. O ônibus era confortável e não seria difícil permanecer ali por cerca de oito horas até Huaraz. Durante a viagem, as paisagens se contrastavam, à esquerda, o Oceano Pacífico dava o ar da graça e, à direita, enormes dunas pareciam querer invadir a rodovia – que aliás, não tinha um buraco sequer. Na parada para almoçar pedimos “pechuga a la plancha” e limonada.

Em poucas horas, a velocidade do ônibus diminuía à medida em que subíamos a serra. O dia ensolarado ia ficando pra trás enquanto o frio chegava e os vidros se embaçavam rapidamente. Eram 18h quando chegamos, uma hora mais tarde que o previsto, à cidade de Huaraz. Conseguimos um mapa, driblamos os taxistas e seguimos a pé em busca do nosso albergue. Tudo ia muito bem até que descobrimos que havia duas ruas cujo o homenageado tinha o mesmo sobrenome: Mejía. No mapa, o primeiro nome abreviado causou nosso engano. Por sorte, as ruas não ficavam tão distantes e precisamos caminhar por “apenas” mais 10 minutos – com a mochila nas costas em uma cidade a 3.052 metros de altitude.

Chegamos cansados ao albergue Monkey Wasi e logo conhecemos Gustavo, o proprietário gente boníssima. O local é simples e bastante frequentado por montanhistas. Seu grande diferencial é uma parede de escalada que os hóspedes podem utilizar gratuitamente para treinar suas técnicas – ou tentar aprender. A diária custa a partir de S/. 20,00 (sem café da manhã).

Pedimos algumas dicas e ajuda para o Gustavo e ele conseguiu nos encaixar, já para o dia seguinte, em uma expedição para a Laguna 69 por S/. 35. Sabíamos que ainda não estaríamos 100% aclimatados, mas resolvemos encarar esse desafio por nossa conta e risco.

Com o sentimento de termos feito a coisa certa, seguimos até o centro para conhecer um pouco da cidade. Fomos diretamente à Plaza de Armas, bonita e bem cuidada, onde alguns músicos peruanos tocavam suas canções com flautas e tambores. Atravessando a rua, fica a Feria Artesanal La Plaza repleta de suvenires com bons preços e, ao lado, a Catedral de Huaraz, com uma arquitetura peculiar.

Na rua de trás, Calle Simón Bolívar, encontramos uma Chifa – restaurante cuja especialidade é a fusão das gastronomias chinesa e peruana, com alguma influência equatoriana –, onde pedimos um Chaulafán de carne e um de frango por uns S/. 8 cada. Bem alimentados, voltamos ao albergue e fomos dormir cedo, pois teríamos um pesado compromisso para o dia seguinte.

O despertador tocou, o céu ainda estava escuro, eram 5h da manhã. Pegamos tudo o que precisávamos e, quando eram 5h30, a van já nos esperava do lado de fora. Seguimos por um caminho bonito, um vale entre as Cordilheiras Negra e Branca. Foram duas horas de viagem até Huashao, onde paramos para tomar o café da manhã – o café continental custa S/. 7, um lanche custa S/. 3, o chá de coca e o chocolate custam S/. 2 e um saquinho com folhas de coca S/. 1.

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A segunda parada foi na entrada do Parque Nacional Huascarán, onde cada um desembolsou mais S/. 10 pelo ingresso. E a terceira parada foi rápida, apenas para tirar fotos, na bela Laguna Chinancocha. Na quarta parada, desembarcamos aos 3.950 metros e começamos a caminhada rumo à Laguna 69 (que fica a 4.650 metros de altitude). O pico mais alto é o próprio Huascarán que chega a cutucar o céu, atingindo incríveis 6.768 metros.

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Nosso guia comentou que, ao contrário do que muitos pensam, os nomes Cordilheira Branca e Negra, não se dão pela neve e pela falta dela, respectivamente, mas sim por suas formações rochosas. Pesquisei bastante mas até agora não encontrei nada para reforçar essa hipótese. Por enquanto fica a dúvida!

Logo nos primeiros passos ficamos pra trás do grupo para tirar algumas fotos e nos reencontramos após 40 minutos de caminhada no primeiro ponto de descanso. Nesse momento já sentíamos cansaço físico (pela falta de preparo, pois a trilha não requer muito esforço), mas nenhum sintoma da altitude se fazia presente.

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Quando atingimos os 4.200 metros, conversei com o guia e o que ele me disse repercutiu muito no meu psicológico. Eu disse que estava sentindo sonolência e ele alertou que a pressão poderia baixar e levar a um desmaio. Caso isso ocorresse, eu teria que ser levado para baixo o mais rápido possível para que meu estado não se agravasse, caso contrário, eu poderia não voltar – em outras palavras, sem eufemismo, eu poderia morrer ali mesmo. Obviamente, esse comentário entrou como uma bomba em meus ouvidos, mas resolvi seguir adiante.

Após duas horas de caminhada eu me sentia bastante cansado e já estava evitando falar muito. Para aumentar o desconforto, caía uma chuva fina. Porém, a sonolência já não estava tão forte quanto antes e decidi continuar.

No último contato que tivemos com o guia ele orientou, ao Marcelo e a mim, que voltássemos pois estávamos muito cansados e não conseguiríamos chegar à Laguna 69. Enquanto isso, o Carioca também já se distanciava de nós, subindo em um ritmo mais forte. Ficamos torcendo por ele.

Foi quando atingimos a Laguna Negra que decidimos que aquele seria nosso ponto final. Arregamos. Queríamos muito chegar à Laguna 69 mas jamais nos arrependemos dessa decisão. Desistimos porque realmente não tínhamos condições de atingir nosso objetivo. Estávamos fisicamente despreparados e, além disso, o soroche (o mal da altitude) nos pegou em cheio. Não vou negar que aquelas palavras do guia me assustaram bastante, afetaram meu psicológico e me faziam pensar, o tempo todo, em minha família caso o pior viesse a acontecer. Dramático demais? Talvez. Mas aprendi que com a natureza não se deve brincar e obedeci aos meus instintos.

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Por acharmos que não teríamos problemas com a altitude, tomamos a decisão precipitada de encarar a montanha sem, ao menos, nos aclimatar do forma razoável. Vinte e quatro horas antes disso ainda estávamos em Lima… Pisamos na bola, de fato!

Subimos 5 dos 7 km até a Laguna 69. Mas, se a subida não dava pra encarar, da descida não dava pra escapar! E tínhamos um longo caminho pela frente. No caminho encontrávamos muitas pessoas subindo e quase todos perguntavam, já cansados, quanto tempo faltava.

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Após 4h40 de caminhada, chegamos novamente àquela primeira parada onde havíamos reencontrado o grupo durante a subida. Ficamos animados pois sabíamos que faltava pouco. E com pouco mais de 5h encerramos, sãos e salvos – e exaustos – nossa aventura.

Entramos na van e dormimos. Acordávamos quando um ou outro chegava da caminhada. A van completou-se quando chegaram o guia e o Carioca, cansado mas feliz da vida! Ele, por sorte, estava fisicamente bem, superou a altitude e alcançou, com muito esforço, a Laguna 69 aos 4.650 metros. Depois de tudo isso, acredito que deixo pra você as duas dicas mais preciosas desse post: esteja com seu físico em dia e aclimate-se bem!!

Foto do Carioca – Toda a beleza da Laguna 69:

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Com todos embarcados, retornamos para Huaraz. No caminho decidimos, por unanimidade, que não iríamos fazer outro trekking no dia seguinte e resolvemos partir naquela mesma noite para Trujillo. Chegamos no albergue, tomamos um banho relaxante, arrumamos as mochilas e pegamos um táxi (não dava pra caminhar!) até o terminal da empresa Línea (seguindo conselho do Gustavo). E conseguimos um ônibus ótimo: semileito com serviço de bordo e poltronas revestidas de couro para as 21h15. A passagem custou S/. 50 e a viagem duraria pouco mais de sete horas.

Sete horas teríamos pela frente… Para descansar e dormir ou, quem sabe, pensar e sonhar com a Laguna 69. Não me arrependi do que fiz, de jeito nenhum. Mas gostaria de tê-la conhecido. A única certeza que tenho, no entanto, é que ela continuará lá, linda e bela, para um dia, quem sabe, finalmente me encontrar!!

No próximo post vou contar tudo o que fizemos em Trujillo: desde as visitas aos seus incríveis sítios arqueológicos, até a praia de Huanchaco com seus caballitos de totora.

Informações

Empresa de ônibus Moviltours: www.moviltours.com.pe

Hostel Monkey Wasi: www.monkeywasi.com / Calle Jr Agustin Mejia 797, Solidad Alta – Huaraz (NÃO SE ESQUEÇA DE DIZER QUE VOCÊ É NOSSO LEITOR)

Empresa de ônibus Línea: www.linea.pe



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GUILHERME GOSS

Turismólogo, travel writer e diretor da Reisen Turismo. Tem duas paixões: sua família e as viagens. Começou a viajar aos 17 anos e, até agora, 65 países não foram capazes de detê-lo! Sua melhor viagem é sempre a próxima!

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